3ª Conferência: “O Arranque da Economia: o dia depois de amanhã”
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Caso pretenda, pode efetuar uma participação síncrona, inscrevendo-se para participar no debate.
Contexto e condicionantes:
“Like it or not, we live in interesting times. They are times of danger and uncertainty: but they are also more open to the creative energy of men than any other time in history”, Robert Kennedy, 1966.
Afinal, talvez a história se repita mais do que duas vezes, ao menos enquanto tragédia. É certo que os detalhes serão, uma e outra vez, diferentes e bem se sabe o que se esconde nos detalhes…
Nesta conferência, admitiremos que a reabertura vai sendo feita, cá dentro e lá fora, evitando o colapso económico. Há um dia de amanhã que nos dá margem suficiente para pensarmos sobre o dia depois de amanhã, para equacionarmos o futuro. Um dia depois de amanhã não sonhado. Diferente, mas possível. Exigente e exigindo a conjugação de vontades para contrariar a ordem natural das coisas. Para que o futuro não seja um mero “remake” do passado, para que se faça acontecer.
Será que, desta vez, é mesmo o fim da economia mundial como a conhecemos? É possível discernir os contornos e as linhas de força, de evolução ou rotura, do contexto geopolítico, económico e tecnológico internacional? Que poderes estão em jogo, como nos condicionam e que resultantes se perspetivam? Pode, e deve haver estratégias nacionais. Porém, tal como no plano sanitário, também no plano económico a cooperação internacional continuará a ser decisiva. Uma falha nesse domínio, significará que mais gente morrerá, por razões de saúde, ou da economia, ou de ambas. Se a economia mundial se dividir, presa de tentações nacionalistas, a história ensina-nos que a recuperação será prejudicada, senão mesmo destruída, tal como aconteceu na Grande Depressão de 1929-1933.
No (mais ou menos) novo mundo que sempre emerge, poderemos “acender o engenho” que nos permita ir além da “austera, apagada e vil tristeza” de um papel menor? Tempos desafiantes, a requerem a conjugação da energia criativa do Estado e da iniciativa privada, para o aproveitamento das oportunidades que as crises sempre contêm, quando se perscruta para além do curto-prazo. Temos essa ambição e determinação? Não será apenas “wishful thinking”? Sabemos que terreno pisamos? As nossas especialização e competências são um promissor ponto de partida? A evolução da estrutura produtiva e empresarial é compatível com um salto qualitativo, tanto em termos de especialização, competências e qualidade da gestão? Ou será que a economia estava menos forte e saudável do que o que se gostava de admitir. Qual é a evidência?
Portugal: os desafios do depois de amanhã
A crise é certa, mesmo depois de amanhã. Vai ser preciso mitigar o seu impacto social. A pressa em retomar a actividade económica tenderá a fazer prevalecer o “business as usual”. Afinal, este não será o tempo para experimentalismos. Como não parece, nunca, sê-lo: o pragmatismo domina o discurso sobre a economia, tornando-a numa prática, orientada para a resolução de problemas, para o curto-prazo, não contribuindo para a análise e o esclarecimento das questões de fundo.
A gestão da emergência deve ser aproveitada para preparar o futuro, para que o regresso ao futuro não seja o passado. Desenhar e conduzir uma estratégia que, ao mesmo tempo, valorize recursos endógenos mas reforce a inserção internacional, indispensável para os ganhos de bem-estar, é desafio mais fácil de enunciar do que concretizar. Num país pequeno e aberto, os graus de liberdade serão, no curto prazo, muito limitados. Sem poder para influenciar o contexto, tanto mais quanto menos a União Europeia seja capaz de estar à altura das circunstâncias, adaptar será a palavra-chave. Não uma adaptação qualquer, uma adaptação informada, para que possa ser rápida e “forward looking”.
Na sequência desta crise pandémica, é natural que haja uma reação de recentramento e, sobretudo, de diversificação de origens da qual possamos beneficiar. A pressa em obter resultados, pode vir a revelar-se perniciosa, cristalizando modos de produção clássicos. Se a política, pela via de incentivos errados, continuar a validar e estimular este tipo de resposta, perder-se-á o ensejo para nos inserirmos em cadeias de valor mais exigentes e com mais futuro. E será que a estrutura produtiva e empresarial é compatível com o necessário salto qualitativo, em termos de especialização, competências e qualidade da gestão?
O centralismo e a assimetria litoral-interior são o reflexo da ausência de um modelo de desenvolvimento consistente. A revalorização da fileira agroalimentar e florestal pode ter um papel na alteração desse estado de coisas e, de caminho, matizar a nossa dependência do exterior. Paralelamente, poder-se-ia cumprir uma outra aspiração: a da sustentabilidade ambiental. Esta crise é brincadeira de crianças por comparação com o impacto resultante da alteração das condições ambientais. Muito mais endémica e estrutural, não há vacina que a consiga debelar, a dois ou dez anos. A tentação do curto prazo, mais uma vez, é inimiga de qualquer ambição para uma estratégia de sustentabilidade. Para isso, supõe-se, é que existem governos e políticas.
Que espaço para a inovação?
Houve, nos últimos anos, um acréscimo de dinamismo na I&D e, mesmo, da inovação. Talvez a crise permita, também aqui, separar o trigo do joio, não eternizando a subsídio dependência, dando um impulso à investigação aplicada e aplicável e a projetos essenciais a um reposicionamento da economia portuguesa, sejam eles disruptivos, mas viáveis, sejam eles incrementais, no verdadeiro sentido da palavra. A crise sanitária, tal como a de 2011, demonstrou que o setor exportador se adapta rapidamente a novos contextos. E demonstrou também que o conhecimento se aproxima, sem complexos, da economia real e que esta procura aquele com cada vez maior frequência e cumplicidade. A resposta das empresas às oportunidades surgidas no mercado dos produtos de higiene, sanidade e saúde, se consagra a flexibilidade e confirma que a necessidade aguça o engenho, requereu, não poucas vezes, investimento e inovação (os moldes para as viseiras; o reaproveitamento do álcool das cervejas; a recombinação de competências no caso dos ventiladores; etc). E o teletrabalho e o controlo remoto, vieram para ficar? Vale a pena estudar esses casos para esclarecer em que medida pesou a necessidade, o incentivo ou a oportunidade descoberta e, assim, reajustar e recalibrar a política de inovação. Terão as nossas exportadoras capacidade para alargar clientelas? Há prioridades consistentes com o nosso trajeto? Que papel podem ter as políticas internas, na internacionalização? E que margem é que as políticas europeias nos abrem?